TOSCANA: Onde os caminhos são o destino – Terceiro e quarto dia em Florença
Terceiro dia
Começamos o dia passeando pela Via Tuornabuoni, rua repleta de grifes, até chegar ao Mercato Nuovo, passando pela Piazza della República. Nesse mercado existem muitas lojas e barracas especializadas em artigos em couro. É também onde fica localizada historicamente a Fontana del Porcellino, uma estátua de um javali que, segundo dizem, transmite sorte se tocada no focinho. No mercado consta atualmente uma réplica da fonte, cujo original fica no Museo Bardini. Mesmo a estátua original é uma cópia romana do mármore helenístico dado pelo Papa Pio VI a Cosimo I em 1560, obra cujo original, por sua vez, encontra-se na Galleria degli Uffizi. Enfim, mesmo sem acreditar nessas lendas urbanas e turísticas, toquei no focinho do javali.
Na sequência, fomos ao Palazzo Vecchio, segunda residência da família Médici e atual sede da prefeitura, localizado na Piazza della Signoria. Esta praça é uma das principais da cidade, ao lado da Piazza del Duomo. Por si só já é um espetáculo, uma espécie de museu a céu aberto com várias esculturas, inclusive uma réplica da estátua de Davi. Da torre do Palazzo Vecchio, temos outra vista impressionante da cidade. Subimos e não nos arrependemos.
Na saída, descemos para a Ponte Vecchio. Não fizemos o tour pelo Corridoio Vasariano porque não estava incluído no Firenze Card, mas acabamos nos arrependendo. Essa visita é possível apenas em tours guiados do Corridoio Vasariano + Galleria degli Uffizi, com duração de 3h30min, mediante agendamento. Custava individualmente €85. Esse corredor liga o Palazzo Vecchio ao Palazzo Piti, passando pela Ponte Vecchio. Recebeu esse nome por causa do arquiteto que o construiu, Giorgio Vasario, que o fez sob a encomenda de Cosimo I. A intenção era possibilitar à família Médici um trânsito privativo entre os palácios, livre do contato com as ruas. O corredor sempre foi repleto de obras de arte.
Passeamos pela Ponte Vecchio e ficamos impressionadas com as ourivesarias e joalharias que funcionam ali. Almoçamos deliciosos paninis com presunto italiano numa casa tradicional do lado direito do rio Arno, chamada Il Panino del Chianti, onde também tomamos algumas birras artesanais por um preço muito justo. O local é pequeno, simples e bonito, com decoração rústica, barris de madeira e bancos altos. Gostamos bastante.
Depois dessa extravagância, fomos à Galleria degli Uffizi, um dos museus mais famosos do mundo. Ele contém enorme acervo, com obras como O Nascimento de Vênus e Primavera, de Sandro Botticelli.
Saindo de lá, fomos passear na Piazza di Santa Croce. Avistamos a igreja e sentamos em um bar das redondezas, ao acaso.
Para encerrar o dia, jantamos na Trattoria Zázá, na Piazza del Mercato Centrale. O restaurante é muito badalado e nos antecipamos com a reserva no dia anterior. Muito bonito e com decoração descolada, serve comida toscana de ótima qualidade. O serviço é um pouco confuso, mas eficaz. Os pratos estavam deliciosos.
Quarto dia
Reservamos nosso último dia em Florença para a margem direita do Arno. Começamos pela Piazzale Michelangelo, localizada no Monte Alle Croci, de onde tivemos a vista mais bonita da cidade. De lá podemos ver o rio cortando a cidade, a Ponte Vecchio, o Corredor Vasariano, o Palazzo Vecchio, o Duomo del Fiore e todas as construções lindíssimas de Florença. Alcançamos essa Piazza de ônibus comum, cujo número nos foi informado no hotel. Cruzamos a cidade, fizemos um longo trajeto que foi ótimo para vermos um pouco além do centro histórico. Percebemos, com a experiência, como a cidade foi crescendo ao longo dos anos.
Depois de apreciarmos a bela vista, saímos andando em direção à Basilica di San Miniato al Monte. Essa igreja também fica no Monte Alle Croci, possibilitando uma bela vista da cidade. A fachada é muito bonita, coberta de mármore branco e verde. A parte interna é composta por belos mosaicos e afrescos.
Em seguida, fizemos uma linda trilha até chegarmos a uma das portas do muro medieval da cidade.
Depois que entramos na região mais antiga de Florença, passamos, por acaso, em frente ao Museo Stefano Bardini. Conferimos então se ele estava incluído no Firenze Card e resolvemos entrar. Bardini foi um famoso negociante e colecionador de arte que viveu no século XVIII. O museu expõe algumas das obras, esculturas, pinturas, peças de mobiliário, cerâmica e tapeçarias que fizeram parte de sua coleção. O próprio prédio possui portas, janelas e molduras então pertencentes a igrejas e prédios antigos. Foi uma visita surpreendente. O museu é bastante injustiçado, estava completamente vazio.
Almoçamos um pedaço de pizza às margens do Arno e tomamos um delicioso sorvete na Cantina del Gelato. De lá seguimos para o Palazzo Pitti. Esse palácio, última residência da família Medici, começou a ser construído por Luca Pitti, um poderoso banqueiro do século XV. Por lá ouvimos que estas famílias eram rivais e que Pitti acabou vendendo o palácio aos Medicis por não conseguir concluir a obra, cedendo, desta forma, ao poderio da família. Atualmente, o Palazzo possui várias galerias: Galleria Palatina, Galleria d’arte moderna, Galleria del Costume, Museo degli Argenti e Museo delle Porcellane, além do enorme jardim. Infelizmente não visitamos todas, pois já estávamos muito cansadas e o palácio é assustador de tão grande. Acho que precisaríamos de mais um dia inteiro para conhecer tudo. Nos resumimos aos apartamentos reais, a Galleria del Costume e a Galleria d’arte moderna.
Saindo do Palazzo Pitti, fomos até a Piazza Santo Spirito, situada na rua da frente. Nossa intenção era tomar uma cerveja e descasar um pouco, já que a praça era mais afastada dos pontos mais movimentados. Ledo engano! Estava acontecendo uma gincana e as redondezas estavam completamente lotadas de estudantes. Saímos, então, em direção ao centro, passando mais uma vez pela Piazza del Duomo. Nos instalando em uma barzinho perto do Mercato Centrale, onde tomamos cerveja com buffet de bruschetta livre. Ficamos ali até anoitecer, vendo o movimento dos turistas, dos habitantes locais e das charretes. Fizemos um apanhado da nossa experiência em Florença e refletimos sobre como uma cidade tão bonita e de grande efervescência cultural acabou se transformando em um complexo turístico de massa.
No geral, percebemos que a cidade é completamente lotada de turistas, grupos enormes, vindos de todos os lugares do mundo. A maioria dos lugares tem filas para entrar, sendo necessário reservas prévias com horários marcados. A Piazza del Duomo é quase insuportável de tanto tumulto até as 18h. Nos museus só se ouve as vozes dos guias, que se localizam em frente às obras, impedindo as pessoas que fazem visitas individuais de se aproximarem. O Palazzo Pitti é um oásis, pois proíbe a entrada de guias com grupos. Enfim, é necessário ter muita paciência. Respirei fundo, sobrevivi e me diverti! Mesmo em meio a tanto tumulto, é possível se maravilhar nessa cidade cheia de mármore, arte, história, gastronomia e vida.